quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A submissão consentida


por José Clodoaldo Fontana[1]
(Extrato do Ensaio do autor: A tecnologia e a tecnoestrutura , Revista Capixaba de Filosofia e Teologia. p. 14 e 29, jun/2008 )
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A submissão humana contemporânea
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(...) No pós-guerra os países circunjacentes às potências vencedoras interessados no desenvolvimento e na implantação ou modernização do seu parque industrial atraíram capitais externos oferecendo altas taxas de juros. Com essa política, a dependência política e bélica, passou a ser também da tecnologia e de capitais, ou seja, para atender as exigências da política de crescimento econômico necessitavam cada vez mais de recursos externos e tecnológicos elevando seu índice de endividamento, mas, as conseqüências dessa política não tardaram: remessas de lucros, pagamento do serviço da dívida, seguros Internacionais, consultorias técnicas e de projetos, auditorias, royalties, patentes, softwares dentre outros, foi o ônus a pagar.
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O alto valor das transferências para pagamento da dívida, com o passar do tempo, deu como conseqüência a paralisação dos investimentos internos, a desestruturação econômica e social, levando a convulsões internas pelo empobrecimento e bloqueando novamente o desenvolvimento das nações tomadoras de recursos.
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Os formuladores acadêmicos desse sistema econômico mudaram também seu foco de interesse, ou seja, a economia não mais se alicerçando em bens físicos (matérias primas, máquinas, equipamentos, bens de consumo etc.), mas, em serviços. Logo, as forças potentes do capital abraçaram as novas formulações econômicas criando corporações apátridas constituídas para esse fim que, em tempo real, movimentam o capital e a informação, utilizando-se de tecnologias de redes informacionais, subjugam e mantém os povos delas dependentes. Para isso, homens e mulheres, jovens e crianças, são induzidos e bombardeados pelo glamour dessa nova economia, a economia de serviços, onde os recursos, como dito, não são mais aplicados em bens de produção necessários.
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Os bens de produção da indústria constantemente redesenhados e simplificados externamente são adornados para transmitirem valores morais a seus possuidores. Valores que obscurecem as virtudes humanas. Os valores do espírito, transformam-se em valores mercadológicos com exclusivo foco na posse e no crédito, ou seja, na abertura e na alocação de recursos financeiros direcionados a aquisição de bens e serviços para contemplar o bem-estar determinado pelas relações consumistas estabelecidas, em cada tempo, pelo mercado.
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As novas formulações teóricas foram determinante para a submissão. Por meio do desejo transforma o cidadão em consumidor. Como consumidor endividado, conjuntamente com o Estado e as empresas locais, é presa da sagacidade do mercado financeiro transnacional .
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No sistema econômico internacional os benefícios igualitários não são garantidos pelo ordenamento natural e nem também de per si ou pelas vantagens competitivas que cada homem, nação ou bloco econômico dispõe, mas, segundo a correlação de forças entre os diferentes interesses estruturados em acordos multilaterais (muitos deles secretos) que determinam uma geografia internacional de produção e absorção de riquezas, de criação e destruição de postos de trabalho, enquanto que, a igualdade como práxis se relativiza pela oferta desmedida do crédito ao homem vinculando-o ao mercado.
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Essa subjugação do homem às forças econômicas e politicas contemporânea, a do meta-capital, leva aos últimos suspiros as grandes construções filosófica e com elas os ideais de prosperidade, justiça e equidade, conduzindo o vivente a um vazio ontológico inusitado.
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O movimento do capital auxiliado pelas tecnologias avançadas favorece essa condição, pois, sua ação não é neutra, não age num espaço vazio e nem sua ocorrência é aleatória, portanto, sendo intencionalmente planejado influi no curso da evolução sócio-histórica dos países, ou seja, cada país assume uma representação, um papel teatral no contexto econômico mundial, com função distinta e determinada, por isso, nele o ser não tem vez nem lugar.
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Quadro crítico e desafiante, principalmente, para as nações satélites com baixo grau de intensidade tecnológica aplicado aos artigos que predominam em sua pauta exportadora por empregar um contingente de mão de obra aquém das condições técnicas e intelectuais exigidas pelos novos desafios fazendo desses países e seus habitantes se distanciarem ainda mais do padrão mundial do ideal de desenvolvimento estabelecido. Com esse paradgma as nações com larga extensão territorial, com amplos recursos naturais exportáveis e uma economia fundada na produção física de bem ficam subordinadas aos processos tecnológicos externamente custodiados pelas correlações de forças e conseqüentemente das múltiplas formas de dominação impulsionadas pelos detentores das formulações das politicas industrial, econômica e cultural mundial transformando a estrutura social civil numa tecnoestrutura empresarial.
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Contudo, mesmo com o advento dos engenhos tecnológicos e todo o peso dominador do capital ingresso na tecnoestrutura é bom advertir: com a evolução tecnológica o homem, como um ser dinâmico, se libertou do enfadonho fardo que o sacrificara e o oprimira, posto que, no passado, ele próprio era o feitor de tarefas que o subjugara às práticas de técnicas elementares pesadas e desgastantes e lhe consumia o tempo e o ânimo. Favorecido pelo advento das tecnologias o homem foi e pode fazer de si mesmo o comandante do processo de planejamento e de controle dos seus engenhos e do capital facilitando-lhe o desenvolvimento da consciência de si e para si como ímpeto para sua ação prática no mundo tanto como indivíduo ou como sociedade e pode influir, por meio de mecanismos políticos internos na defesa dos interesses comuns junto aos organismos internacionais. Na ação conjugada ao conhecimento racional é que repousa o autêntico caráter benéfico da tecnologia.
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[1] É bacharel em filosofia.
Julho/2008