sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Análise da influência das mídias na consciência.

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por J.C.Fontana (1)
Vitória, ES - 08/10/2010


Cada individuo, grupo ou nação transmite a experiência e o conhecimento por tradição, formula novas e lega às gerações seguintes sua versão de verdade, sua forma de compreender para empreender no mundo.

O método e a forma utilizados para a ação é determinante no resultado de um empreendimento. O desejo de antecipar o resultado a ser alcançado está na mente do próprio homem, assim, cada ação tomada tem em vista atingir o fim desejado. Essa ação é fundamentada por medidas comparativas e são variáveis em cada indivíduo ou grupo e dependem em cada época dos paradigmas morais e éticos vigentes que balizam a conduta individual e social que pode ou não valorar o meio utilizado.

É pela linguagem que esses paradigmas são exteriorizados não como origem, mas, compartilhamento. Os meios pelos quais a linguagem toma forma e propagação são entes neutros, porém, o que determinará sua moralidade é a intencionalidade humanaa no uso e manuseio desses meios.

O homem comum sem as estruturas adquiridas numa boa formação familiar e social é abandonado ao acaso e bombardeado por ideias exógenas distantes de sua realidade e capacidade de compreensão. Compreende as relações sócio-culturais e a jornada humana como um movimento homogêneo, linear e progressivo e já pré-determinado, com princípios fixos e imutáveis, enquanto que, o homem  reflexivo compreende o corpo social como heterogêneo, em permanente e aleatório movimento e mutação, cujo porvir é aberto e incerto. Naquele, sua referência é dependente do momento vivido pela experiência, enquanto que, neste pela idéia de realizar as inúmeras possibilidades de transformação do presente.

Para resolver essa questão e em ambos os casos cria-se premissas que fundamentam suas idéias sobre o passado, projetando-as para o futuro.

As premissas são transformadas em crenças que podem constituir uma ideologia. A ideologia é um conjunto de idéias e pensamentos de um povo, uma nação e constitui sua visão de mundo. Ela pode ser reativa ou conservadora com as circunstâncias da vida. Também é entendida por alguns como um conjunto de crenças e idéias dominantes em uma sociedade que mascaram a realidade. Na atualidade a ideologia, entendida dentro deste último entendimento, é expandida com forma, expressão e publicidade. Sua ação se dá sobre a consciência e flui por meio da comunicação oral, escrita e audiovisual. Hoje o ciberespaço contempla todos esses meios com vantagens insuperáveis pelos meios naturais.

Embora as crenças, no sentido de princípios consolidados, sejam subjacente ao homem, sua ocorrência coletiva pode aflorar por motivações e em ocasiões diversas não se prevendo suas consequências. A força do movimento original e consolidado é mantida fora do alcance da razão. Um pequeno movimento de suspeição em algumas dessas crenças ou ideologias gera reação e insatisfações e a ação ou a reação pode ser a centelha transformadora ou estabilizadora e influenciar o desfecho dos empreendimentos humanos. Quer seja como crença ou ideologia ela se auto organiza, contamina corações e mentes, forma agrupamentos, radicaliza e se expande.

Membros pertencentes a um grupo organizado em dado momento interagem com outros, muitas vezes antagônicos, por meio de interfaces comuns. Todavia, deixam por onde passam suas marcas representativas que poderão, alhures, manifestar-se em épocas especiais ou de comoção coletiva.

Os eventos e temas sensíveis que afetam esses grupos e suas crenças, ou, modernamente falando que sugerem uma mudança de paradigma, manifestam-se com veemência, com uma força descomunal, incontrolável. Esses grupos poderão comportar-se ora com perfil extremamente conservador, não obstante, dizer-se progressista, ora com perfil extremamente progressista, não obstante, dizer-se conservador.

A força descomunal por meio das mentes individuais perpassa as organizações sociais e se manifestam como grupos de pressão influenciando especialmente os indivíduos não alinhados a esses grupos e que estão destituídos racionalmente da proteção dessa influência, enquanto que, os alinhados já estão com suas posições visceralmente consolidadas e comprometidas e, acima de tudo, bem treinados nos métodos de persuasão, principalmente, quando se toca em seus alicerce sensíveis (que o grupo julga como a verdade absoluta) lutando com os instrumentos disponíveis ou especialmente criados contra tudo que lhe for contrario e, portanto, o oposto deve ser extirpado.

Os grupos de pressão manifestam-se em momentos importantes e atuam com determinação. Eles sabem que suas ações poderão determinar os rumos, embora incertos, abalando os fundamentos preestabelecidos. Os partidários da heterodoxia querem demolir esses fundamentos consubstanciados e entendidos como ultrapassados ou carcomidos pela corrupção moral, ética e pelos avanços científicos. Os partidários da ortodoxia resistem para evitar o abalo e o desmanche da tradição, das ideias herdadas e estabelecidas. Os primeiros agem como as águas estancadas que pressiona o barreira de uma represa e a segunda como força contrária resiste para manter a estabilidade. Em um momento indefinido, ao primeiro sinal de desgaste dos material produzido pela fadiga as forças aprisionadas rompem e inundam a planície provocando alterações significativas ao longo de seu fluxo.

Consequentemente posicionar-se racionalmente a favor ou contra uma dessas correntes de idéias comprometidas, envolve conhecimento prévio, capacidade intelectiva para reflexão e expressão intelectual fluente, mas, sua propagação em circunstância de pressão e de incerteza, de posições emotivas que envolvem desejos e interesses e, acima de tudo, do autorreconhecimento da superioridade de suas pregações, tendem a um desfecho vitorioso impulsionado pela ação sob o amparo da emoção numa guerra física e psicológica incontrolável, portanto, distante do âmbito da razão.

As posições tomadas sob o amparo da emoção são os motivos de tanta informação e contra-informação que contaminam a mente sobre temas e em ocasiões importantes para a comunidade.

Palavras ou ideias divulgadas com carga emocional e com o objetivo de alcançar determinado fim são potencializadas nos meios midiáticos podendo gerar indisposição, desilusão ou harmonia, esperança e prosperidade  do corpo social que numa sociedade organizada, autônoma e liberta avaliará e determinará ou não sua aceitação.

Conclusäo

Com efeito, o homem convivendo em um sistema social complexo no qual a ciência e a tecnologia em suas diferentes ramificações deseja ser a ordenadora das idéias (embora também sujeitas às mesmas influências) no intuito de substituir as convicções mais íntimas da percepção humana que há milhares de anos e em todas as partes habitam as mentes dos povos, o simplório homem do povo e vivente numa sociedade com reduzido nível de educação e dotada de uma consciência social e política e, ainda frágil, é presa fácil e assume, neste estado, como se fossem próprias as ideias alheias.

Por fim, é por meio desse processo de conversão individual ou coletiva, utilizando-se dos meios contemporâneos de comunicação que esses grupos organizados e inescrupulosos, promovem a propaganda que parte da sociedade civil, desprovida da capacidade de análise, é convertida e tornadas objetos manipulados para esses grupos alcancem os fins últimos que desejam.


José Clodoaldo Fontana ´
(1) Bacharel em Filosofia

Blog: http://donfontana.blogspot.com